domingo, 12 de março de 2006

(13) FELICIDADE

Num daqueles dias em que corpo e alma não se entendem, vagueava a tristeza por aí, quando algo insólito quebrou o silêncio. Longo trinado chamou minha atenção! Olhei e, ali, a sete metros de altura descortinei um bico amarelo a adornar uma cabeça preta de olhinhos postos em mim, expectante como quem pede resposta..
Foi grande a tentação e, no melhor que pude, respondi, forma desajeitada e modesta, a pretender imitar tom semelhante.
Trinado cá, trinado lá, ali estivemos, filosofando diferenças e semelhanças, tempo, sem tempo, afinal companheiros na representação do faz de conta da vida, sincero e tranquilo.
Em dado momento um bater de asas e o meu interlocutor lá se foi, numa mancha negra esvoaçante, turbilhão efémero de vida, na busca de outros destinos outros encantos, outro alguém que também o compreenda.
Uma pequena chama de felicidade havia permitido descolar-me de problemas impostos na busca do supérfluo, quando o essencial morava mesmo ao lado.
Raro nos lembramos que nus nascemos e assim partimos e a verdadeira felicidade poderá ser, aqui e ali, a partilha destas breves eternidades por empréstimo e sem posse.

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