Vão longe esses Natais de sonhos realizados. De dia, e por liberalidade dos Sapadores Bombeiros, um embrulho de cores brilhantes, ciosa e cuidadosamente sobraçado e, à noite, a magia duma repleta chaminé dum familiar abastado, onde o meu sapato colheria outro modesto presente. Sempre simples e modestos mas eram o prémio do sonho, sonhado e afinal realizado entre as diversas fantasias do faz de conta. Ao relembrar, tentei recrear, procurei o fato, o gorro, as botas, antecipadamente deixara crescer a barba, branca e natural como convinha, e tentei... tentei sem êxito alcançar as renas. Outro sonho, como tantos outros que não vou realizar.
Sem alma e frios, fiéis e constantes, se não côncavos ou convexos. singularmente diferentes dos humanos. Estes, por vezes, quando nos cruzam, e num arremedo benévolo de iludir o óbvio, pensam (estás mesmo em baixo) e traduzem (que óptimo, o que andas a tomar ?). Os espelhos não !... não nos iludem as expectativas, directos e concisos, são bons companheiros e, ocasionalmente, arrastam-me ao monologo. Ultimamente matuto num insólito senão. Quando os fito, e pese embora sinta em mim o menino que porventura fui, não o descortino na imagem devolvida. Será que não cheguei a ser menino ?
Alguém que me ama, na sua límpida e cândida ternura, perguntou se não me sentia triste por viver só. Respondi que não estava só porque a guardava no meu coração !