segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

(107) DOENÇAS FATAIS



DIAGNÓSTICO: vida
TRANSMISSÃO: sexual
MORTALIDADE: 100%
NOTA: Sendo a mortalidade garantida, existem porventura diversas hipóteses de adoçar ou amargar a existência, segundo o gosto do paciente.
São processos muito elaborados com o nome genérico de SENTIMENTOS e com uma abrangência do AMOR ao ÓDIO, cobrindo esse leque VIRTUDES e DEFEITOS.
É concedido ao paciente o livre arbítrio desde que seja contido e use da necessária moderação.
Para o efeito vem o mesmo equipado de sofisticado PC com disco de muitos gigas, não existindo qualquer garantia de bom funcionamento.

(106) PARECE... NÃO SERÁ ?




É dia ! À porta de minha casa.
Será o SOL será a LUA ?









De forma a preservar a sanidade, deveria ser descartado o conhecimento alargado.
Há dias fui questionado sobre as cores que via em duas quadriculas contíguas integradas num conjunto geral do tipo tabuleiro de xadrez.
A coisa era para mim liquida, isenta de duvida, "tinto" como diz o povo.
Uma era branca, a outra castanha, como todas as restantes do desenho.
Rápida, cientifica e eficazmente fui desiludido. Sem truque, magia ou ilusão.
Não! Eram as duas de cor semelhante, escura.
Assustei-me, sem entrar em pânico, reconhecendo culpa ao grande inquisidor, este meu cérebro, que controla a belo prazer a filtragem do que posso conhecer, e, vez em quando, por descuido ou a propósito, alarga o crivo.
Nesta barafunda de meias verdades e passado o teste, escancara-se a porta da sala do Espanto e Consternação e a Duvida aproveita para se apoderar de mim.
Será que na ternura da caricia a tua pele é tão macia quanto sinto ?

domingo, 23 de dezembro de 2007

(105) LÁGRIMAS E SORRISOS


NÃO CHORES PORQUE PERDESTE
SORRI PORQUE TIVESTE
Sendo o lugar comum, fácil não é cumprir a máxima.
Só quem tiver coragem e ousadia de viver a vida como ela deixa, na plenitude, sem a falaciosa presunção de eternizar o momento.

sábado, 22 de dezembro de 2007

(104) A TROCA

Sem perder urbanidade, definitivamente preteri o urbano pelo rústico, ou até pelo deserto e pelo grande mar, naquela fronteira onde vivem as idas e vindas das marés, em que areia e água rítmica e com frequência se acariciam docemente. Fronteira onde não raro surgem tesouros, dentre o silencio borbulhado da água revolta.

O somenos, quando não desejado, é o vento, a emprestar violência à relação.

A experiência conta-me todavia ser garantida a bonança e a doçura voltará.

Nesses meus devaneios, tento contacto com outros seres, nesta mania de me fazer entender, sabendo bem que, por regra natural, esses seres usam vocabulário curto e eficaz e reconhecem a paz do outro.

Por vezes até sou gratificado pela chuva d'oiro do fim de dia.

Talvez esteja a pedir muito !

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

(103) AS GARATUJAS


Quando entro no virtual ventre do passado, lembra-me a época em que as criticas ao poder instituído, pelo apertado controlo, só poderiam ser descarregadas na privacidade e, desse modo, quando, e só por absoluta necessidade, me servia dum sanitário publico, era garantida a distracção enquanto decorria a função.
As garatujas enchiam paredes e portas, maldosas umas, porcas outras e algumas escondendo verdades nas pregas do humor.
Enfim local único para transcrever ideias e opiniões proibidas noutros espaços pela verdade contida.
Lembra-me a graça duma delas. Na porta, frente à sanita, em letra miúda o suficiente para nos fazer aproximar a cabeça nos limites da curiosidade e a surpresa quando se conseguia ler o escrito:
"cuidado, está a fazer fora da sanita"
e também poderia ser verdade.
Enfim, pachola a malta daquele tempo, dona de algum sentido de humor, negro que fosse.
Hoje, as chamadas novas tecnologias (e se d'ontem já velhas são) não deixam espaço a qualquer privacidade e suponho nem mesmo os sanitários escapem.
As garatujas das portas e paredes passaram livremente à imprensa diária, tendo sido retirada a adrenalina e o respectivo gozo.
O pior de tudo é que nem parecem verdades.
Ou não serão mesmo ?

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

(102) PAVÕES








DOIS ANIMAIS DISTINTOS E CONTEMPORANEOS

ATÉ PODERIA AFIRMAR, AMBOS BELOS.

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A beleza aparente da ave e a ostensiva demonstração da mesma, encaminha o nosso preconceito pelas vias da petulância, vaidade e outras menos virtuosas qualidades. Todavia a pobre apenas obedece ao impulso da continuação da espécie, cumprindo o modus pela natureza imposto.
Aqui fica por compreender a razão pela qual o peru, ave muito semelhante, foi menos beneficiada.
Porventura não será a fêmea tão exigente.
No homem, animal pensante, supostamente inteligente, pese embora a presença do mesmo impulso, seriam requeridas outras virtudes, "mais virtuosas", menos petulantes.
Vamos supor que a natureza o beneficiou de algum agasalho natural, peludo por força, o qual foi perdendo na luta para emendar a mesma natureza, já aí demonstrando mau uso do que lhe foi emprestado.
Ele ataviou-se a seu modo e foi alardeando essencialmente maus hábitos, preterindo a humildade de reconhecer ter vindo ao mundo nu e dentre fezes e urina.