quarta-feira, 27 de setembro de 2006

(37) A MAÇÃ


TENHO DE ME QUESTIONAR:
A MAÇÃ ORIGINAL JÁ TERA LAGARTA ?

segunda-feira, 25 de setembro de 2006

(36) MOSCA II


Sim, este é o meu olho !
Hoje, dia de saída, não estou no emaranhado pesadelo, mudado em grande mosca e na ânsia de voar além das grades.
E, com agrado e sem menosprezo pelo magnifico olho da mosca, vou apontar-lhe um senão.
Da paleta universal não retirou o matiz e, o repetir das imagens, não garante vantagens.
Se fosse mosca, calcula, nem se me dá na lembrança, quando olhasse para ti, meu amor, a ver-te sem cor, repetida, como névoa esbatida de quem anda fugida.
Quero ver-te toda inteira, nesse teu jeito de ser, com esse brilho nos olhos onde verdejam os prados e o lago de água mansa onde navegas na esperança.
Como podia encontrar-te, repetida e sem cor ?
Mergulharia na dor de perder o teu amor!
E, depois, outro senão.
Será que a mosca tem coração ?
Lá ter terá, certamente.
E cabe nele a ternura, a compaixão, o amor e até talvez a loucura ?
Na dúvida, digo que não.

(35) O LOBO MAU

Não tenhamos dúvidas
se fomos crianças
se fomos amados
foi com intenção ternurenta que nos embalaram, contando e recontando, entre outras, a história do lobo mau e do capuchinho vermelho, mergulhando a nossa candura de então nesse mundo do faz de conta.
Aí nessa profundeza onde, separados os bons dos maus, se esvaziam os espaços intermédios. Mais ou menos bom ou mau não existiam.
Vamos crescendo nesse encanto, sem nos apercebermos do seu desencanto.
É óbvio que ainda hoje, na vida real, há por aí "lobos" a comer o capuchinho e a avozinha e, se apetite lhes restar, ainda se aproveitam do cabaz da merenda.
O verdadeiro sacrificado, no meio do turbilhão, parece ter sido o lobo.
Viu a sua reputação arrastada na lama, não que isso lhe importe por certo, quando no fim apenas cumpre o seu fado e o lugar a ele destinado nesta prisão enorme que é o nosso planeta.
Mais um a sofrer do preconceito.

sábado, 23 de setembro de 2006

(34) FAZER AMOR


Vamos fazer amor...
Coisa vulgar de ouvir, no recato de qualquer conversa intima, no autocarro, em bares, cafés e discotecas ou na invasão sistemática com que o pequeno ecrã castiga a nossa casa.
E aprofundando a pesquisa, mesmo sem recurso ao filme porno, podemos citar algumas frases tais como:
Fiz amor
no chão da cozinha
na banheira
no tapete
em cima da mesa
com o gato a ver
Entre uma infinidade de outras, e até por vezes na cama.
A moral que tirei da história:
O amor fabrica-se, sendo apenas necessário alguma imaginação e a presença mínima de dois artífices quiçá bastando um se de génio se tratar.
Ora isto causa-me grande confusão.
Havia arrumado na minha gaveta dos conceitos, quase conclusivos, a aceitação de que o amor e o sexo pouco tem a ver um com outro E se, por casualidade, amarmos verdadeiramente alguém com quem temos sexo, isso terá de ressaltar da relação no período que decorra entre dois orgasmos não seguidos. E aqui lhes digo, se o resultado é positivo, então sim é a excepção em que o amor e sexo se aliam.
Não se faz amor, deixamos fluir o amor, somos dois em um.
Na verdade teremos de aceitar que o sexo é servidão imposta pela mãe natureza que astuciosamente criou esse impulso em todos os animais (com o estimulo do prazer) como garante da renovação. Maldosamente vamos dando a volta e usamos os contraceptivos. Como não queremos prescindir do prazer e simultaneamente evitar a vileza, mascaramos então o acto, praticando-o abusivamente, muitas vezes, em nome do amor.
Amor é outra coisa. O amor é dádiva. Nasce nos lagos profundos da nossa alma e curiosamente não se fabrica.
Ou se tem, ou se é pobre!
Não quero confundir amor com sexo. Vou manter os meus conceitos até porque também amo algumas árvores e não me vejo a fornicar qualquer delas.
E que isto não seja preconceito !

segunda-feira, 18 de setembro de 2006

(33) SINAIS DOS TEMPOS

Dizem que o filósofo disse:
Penso, logo existo.
Eram outros os tempos. O tempo, generoso, concedia tempo no tempo e o homem era porventura menos ambicioso.
Pesem embora as vicissitudes de que todas as épocas são prenhes, o homem permitia-se parar, rodear o erudito e escutar o seu dito ou, mesmo que de silencio se tratasse, meditar, atapetando o caminho da reflexão.
No tempo de hoje, e em abono de suposto conforto, o sistema agilmente se perverteu e no primado da busca do supérfluo, o essencial é secundário.
Tu tens ? Eu também tenho de ter... não importa o que seja.
Os próprios eruditos, creio que existam alguns, enviesam e aproveitam-se da credulidade dos seguidores na peugada do mesmo objectivo.
Assim nestes tempos de verdadeira dúvida na busca, de insegurança pessoal, haveria
necessidade de converter o dito
Viesse o filósofo a este tempo e decerto aconselharia::
Penso logo hesito.
E aos verdadeiros pessimistas:
Penso logo desisto.

sexta-feira, 8 de setembro de 2006

(32) MOSCAS

Deixem-me adivinhar ! Bichinho chato e nojento!
Pois, pois, eu também pensava assim e ao ouvir o zunido para a guerra me armava (pufs-pufs e mata moscas), sabendo logo à partida estar de causa perdida.
Mas um dia lá cismei, da arma passei à lupa e na pesquisa mergulhei.
Miles de espécies, miles de formas, miles de cores.
Belo equipamento, olhos multifacetados, máquina de voar completamente computorizada e com soft a garantir perfeita e segura acrobacia, grande estabilidade no poiso, graças ao número de patas e sua fofura e ainda, pasmem, extrema elegância e finura na alimentação, sempre sugando, pela palhinha, a matéria que os seus pés gustativos aprovam. Completam, logo,logo, com apurada higiene íntima.
Predadores aos montes, aéreos e terrestres e, nestes, lugar cimeiro às aranhas e seus engenhos de pescar
Criar, destruir, criar, destruir e por aí fora...
Todavia, e malgrado este desbaste, a capacidade e rapidez reprodutiva bate todos os recordes, deixando inibido qualquer enfatuado macho latino. Os ovos, depositados em matéria orgânica a decompor, eclodem passadas 24 horas.
Este porventura o segredo da sua capacidade de fuga à extinção
Além disso elas ganharam lugar à nossa mesa, não só planando e pousando na comida, mas também integrando o prosear:
· pareces uma MOSQUINHA morta
· estavas como MOSCA no mel
· come a sopa, olha a MOSCA
· o meu chefe hoje estava com a MOSCA
· que raio de MOSCA te picou
e até na política se metem. Ah,Ah ?? Não se riam, pois isto afirmo sem rodeios; a experiência é pessoal e a fonte fidedigna. Foi o caso que nas últimas eleições, cumpridor e no intento de acertar, mas indeciso no voto, pedi conselho a aclarado técnico na matéria. Estivesse eu descansado, respondeu, votasse até de olho fechado e plantasse a cruz aos fados da sorte, convicto ele estava que a trampa era sempre a mesma, só as MOSCAS mudavam.
Dizem ser o dito corrente, só que ao corrente eu não estava e, embora reconheça às moscas esse mau hábito, tenho aqui de confessar, ser a metáfora desagradável para elas.
Aprendi que são vitais, esclarecido que fui.
Sem moscas a terra estaria coberta por plantas e animais mortos.
Tenho de fazer agora uma sutura, por estar decerto a abrir feridas nos poucos leitores dos meus escritos, tendo alguns já comentado a minha aparente solidão.
Para já os descanso, em solidão eu não estou, tenho o quarto cheio de moscas. Em vez de rede mosqueira, vejam só, gradearam a janela. De erro crasso se tratou, quase cabe minha cabeça e as moscas bem transitam.
Aos leitores ainda atentos, reitero as minhas desculpas, mesmo sem ser meu intento tenho aqui de terminar.
Chegou o meu controlador.
Topou que estou com a MOSCA e atascou-me dose dupla para ficar a dormir.
Dormir ??? Claro seria óptimo, não fossem os pesadelos.
Logo fico enorme MOSCA imune aos predadores e a esvoaçar pelo quarto.
Tentativa malograda de passar aquela grade... e voar em liberdade.