quinta-feira, 16 de julho de 2009

(254) Compaixão

Dizem que somos animais de hábitos e assim será por certo, ressalvadas as habituais excepções.
Não me esquerdo e é por hábito que diariamente percorro o mesmo trajecto que me leva ao local onde habitualmente satisfaço o hábito do café da manhã.
Nesse percurso é também hábito cruzar-me com velho cão, como eu perto do limite da caminhada.
Fita-me, de olho triste e, ao meu olá, abana duas ou três vezes o rabo, sem grande entusiasmo, talvez por cortesia e vagarosamente seguimos, cada um à sua.
Hoje, depois do habitual cumprimento, mau grado meu, desatei a matutar no porquê de, em certos momentos de êxtase, acreditarmos na beleza da natureza, mais não fazendo do que dar corpo ao conceito do belo, estabelecido pela sociedade ou grupo humano em que nos inserimos.
E, esse bem estar, na observação daquilo que consideramos perfeito, logo nos leva a esse outro complicado conceito, o da felicidade, fugaz que seja.
Temos porém uma outra capacidade, mais a jusante do optimismo, o discernimento de olhar pelo outro lado, o que poucos fazem, dado o evidente incomodo.
E aí, em honestidade, teremos de admitir a inexistência da compaixão, nesse quadro natural , outro conceito que faz parte da consciência de alguns humanos, talvez poucos.
Quero dizer na minha: aquele meu conhecido, no seu espaço natural, em vida livre, não acorrentado ao estigma de animal domestico, há muito teria cedido a vida a um qualquer predador, mais jovem, mais forte.
Assim, tout court, não tens vitalidade, vais à morte.Sendo os nossos encontros de mera circunstância não aprofundei se isso o faria feliz, ou menos infeliz do que parece.
A duvida em mim subsiste na incapacidade de conciliar beleza e compaixão, ou seja o que está certo e parece errado.
Ou teria sido melhor não sair hoje ? O diabo faça a escolha !