segunda-feira, 24 de abril de 2006

(23) O COAXO

Sorrateiramente, do repleto e variado cofre da mãe natureza, saquei esta pequena jóia, na esperança de poder estabelecer algum contacto.
Não sei coaxar. Aprendizagem a inscrever num imenso rol de prioridades, porventura a não cumprir, não tanto por falta de interesse, mais pelos limites impostos pela vida.
E ali ficámos, cada um no seu canto, expectantes.
Ela aparentemente serena, confiante não tanto.
Imobilidade, passividade e mutismo
Decorridos alguns minutos resolvi devolvê-la ao seu charco.
Então, e enquanto se abrigava na terra, coaxou.
Um misto de alivio e desabafo, tipo
“Safei-me. Os humanos são loucos mas nem todos violentos.”
Na dúvida, decididamente, tenho de aprender a coaxar.

sábado, 22 de abril de 2006

(22) A VERDADE NUA















O conhecimento da verdade é, em princípio, do interesse colectivo, levando muitos à consulta da bola de cristal, pese embora o risco dela não ser tão límpida e transparente quanto sonhada.
Por mim, como muitos outros, permito que a minha verdade e a certeza andem por aí de braço dado, porém acompanhadas da dúvida e seu benefício, cujo serviço se mostra de grande utilidade ao permitir sensatez e comedimento nas avaliações.
E isto porque penso ser indispensável a chancela da dúvida, mesmo se a verdade se reveste de aparente autenticidade.
Vejam:
Há dias, grande ajuntamento à beira da muralha, alguém se debatia, clamando por socorro. Um chapão na água e o sinistrado é salvo.
Quase todos aclamam o abnegado herói.
Duas pessoas porém conheciam uma verdade diferente.
O salvador… e eu que o empurrei.
Insisto. A verdade raramente se desnuda !

sexta-feira, 7 de abril de 2006

(21) FOLHA MORTA


DIA A DIA, NO PRESENTE
NUMA FOLHA DO FUTURO
VOU ESCREVENDO O MEU PASSADO
UM DIA ESCREVEREI: NADA
FICA A OBRA INACABADA

(20) A BESTA

Alguém me chamou de besta !


Meses antes via em mim um ser bonito (leia-se sensível).

Foi útil a intenção de raiva ou insulto.


Permitiu questionar-me:

Afinal somos aquilo que pensamos ou gostaríamos de ser ou somos apenas validados pelos outros nos seus espelhos mutantes?

(19) A GARRAFA

Aviso: contem elixir da vida (0% álcool)
Dilema: estará meia cheia ou meia vazia ?
Meu amigo, três motivos me deste para este artigo:
Os teus posts A teoria da garrafa O teu comentário à missão impossível
Misturei, agitei, bati e... atrevi-me: provei.
Pergunta a que me soube! No fundo é uma mistura de sofrimento, dor, amargura, afastamento, presença, serenidade e luta, repouso e agitação, a que houve o cuidado de aplicar uma boa dose de faz de conta e, porque não, de afecto, amizade, amor, para que borbulhe quando ferve.
E não me parece difícil encontrar tudo isto, e muito mais, num único ser. Antes de sermos empurrados para esta colónia penal, somos devidamente abastecidos e apetrechados não só para utilizar toda esta panóplia de ferramentas mas também para sentir os efeitos do seu uso. E o uso deste arsenal se imoderado pode destruir, manter, endurecer ou...
Cá por mim, sou guloso, tenho-me servido de quase tudo, e acumulo com alguma humildade, o que, apesar disso, me deixa a dúvida quando olho à volta.
O sentimento é de egoísmo ou de privilégio ? Afinal neste mar de sofrimento, pese embora o mau piso e as pancadas sofridas, ainda aceito e vou mantendo a cabeça fora de água, De certo, e apesar de, sou privilegiado!
Será, como dizes, que ainda me resta a esperança de ser ouvido (lido) ou aquilo é apenas o resultado da tal humana condição e da necessidade de conseguir companhia para o meu grito ?
A dúvida é mais uma das ferramentas que vamos usando.
Ah, e já agora, a garrafa para mim, e hoje, está meia ch
eia.