sábado, 15 de novembro de 2008

(194) As corridas

Possuis apenas aquilo que não perderes com a morte, tudo o mais é ilusão


Numa mini maratona disputada por milhões de concorrentes, ganhei em tempos a vida.
Imposta era a corrida. Esperado vencedor único e eliminados os restantes.
Não me cabia opção, nem vontade, nem conhecimento do eventual mérito do prémio. Impulso era o critério, nós as marionetas.
Vencedor, aqui cheguei sem pedir, beneficiei do usufruto da dádiva. Foi-me concedida a vida, o acesso ao conhecimento pelo livre arbítrio e longa aprendizagem, comum a outros vencedores, doutras corridas, doutros tempos, de semelhante modo impelidos.
De imediato fui inscrito noutra competição, todavia mais dura, porventura consciente e aparelhado com algumas sofisticadas armas.
Desta feita o êxito final, a morte, é assegurado a todos, abstraído qualquer mérito do percurso.
O processo inverte-se, não há empurrões de passo à frente, subsistindo todavia alguma falaciosa delicadeza cultivada segundo as escarpas do próprio percurso.
Seria lógico, nesta derradeira corrida, o vencedor ser o ultimo e talvez assim seja, dando a impressão que bastaria parar para vencer.
Mas não! Esta tem regras. Não é permitido parar.

3 comentários:

Anónimo disse...

Tu és como o vinho do Porto...com o tempo ficas cada vez melhor. Adorei este texto.
Jokinhas
Di

Andradarte disse...

Ora aí está um que não liga ao BI. Com o tempo, cada vez melhor. Eu também acho, pois também gosto de Vinho do Porto. Parafraseando o outro:- Cabecinha pensadora.....

alcinda leal disse...

Excelente o texto e a foto!
Parabéns prof!
bjs