segunda-feira, 24 de novembro de 2008

(198) Currículo

Dificuldade: separar o trigo do joio











Perdido o hábito da leitura resta a adoração antiga pelas fitas de mistério onde aguçava o engenho e raciocínio na expectativa de descobrir o mau, normalmente entre os bons, escapando aos engodos do realizador.
Hoje essas fitas escorrem sangue e abusam dos efeitos especiais, antes na penumbra por falta de engenho e técnica.
Assim, quando o noticiário é a repetição do de ante ontem e ainda não quero dormir, lá me foge o comando para uma dessas séries, afastada a hipótese de adormecer pelo usual entremeio de basto tiroteio.
Para além disso, agradam-me as palestras.
Ah essas sim... e de preferência de temas polémicos ou intelectualizados.
Aí, quando não consigo espremer o sumo do palestrante, deleito-me na observação do publico e das suas deliciosas reacções.
Todavia há um sobreaviso a reter.
Quando o curriculo do orador é extenso, a coisa tende a não correr de feição, funcionando no mínimo duas variantes: o sujeito obriga-se a dissertar longamente para justificar aquele ou perde-se em intelectualidades e citações aleatórias, nada tendo a ver com a paciente assembleia.
Em ambos os casos cuidem-se: quando diz "e agora para terminar", não suspirem de contentamento, levarão pelo menos com mais quinze minutos de enredo, pois o bilhar é grande.
Não sou critico desta arte, mero observador atento, e daí creio que o paciente publico, no final, por alivio ou satisfação, troa em imensas palmadas.
Não fico doente todavia, pois sei que se inquirir duas ou três pessoas perguntando o que disse o homem, a resposta universal e unânime é o gaguejo em nada justificativo das palmas.
Em resumo e para terminar (já estou a tomar o hábito mas garanto não demoro):
Tantos cursos e carreiras, sejam eles de água fria ou a ferver, devem tomar da curta vida o seu tempo e, tais sujeitos, quando se sentem apertadinhos, de certo nem uns minutos terão para o chichi.
Lembra-me um puto, para não ficar diminuído lá no grupinho social, à sua vez disse que o pai também tinha um curso, o de tirador de cerveja, e estava a tirar o mestrado da bisca. A sapiência da inocência.
Na verdade, e apesar do desabafo, tenho apanhado belíssimos oradores que sabem o que dizem e para quem falam, interagem com o público e eles próprios se estão marimbando para o currículo, simples palavras em papel ou oradas, mor das vezes não certificando garantia.
São eles que me permitem distinguir os outros.
Bem hajam.

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