sábado, 19 de julho de 2008

(165) Seres pensantes



A viagem d'hoje, sobremaneira me agradou.
Nem sei a razão. Talvez por ter ido ontem e ansiasse o retorno.
Começo a temer o dia em que, ao lá chegar, não tenha jeito de ficar e regresse no mesmo expresso, deixando por cumprir as obrigações absurdas duma vida finita.
No percurso, olhando os campos prenhes do esforçado e humilde labor do homem, permito-me duvidar da sanidade do chefe de orquestra da natureza.
Porventura, a criação do dito humano não seria problema se os limites fossem semelhantes aos concedidos a outros e tão maravilhosos seres que por aí habitam e com alguns dos quais até uso e abuso privar.
Quis todavia ensaiar o insólito e concedeu a esta criatura a faculdade de pensar.
E daqui não mais teve mão na harmonia.
Nem batuta obedecida.
Logo se apercebeu.
Uns aproveitaram em demasia, outros não tanto e houve até alguns que, sabiamente talvez, rejeitaram o beneficio.
Esses, não pensadores, integraram a escola geral, o instinto lhes basta, continuando a tocar o seu instrumento e, sem opinião, pouco entravam o processo harmónico.
Os pensadores medianos, demasiado contestatários, arrogantes, dizem se pensam logo existem e daí causam perturbação quanta baste nos acordes, tocando cada um a seu belo prazer.
Os demasiado pensadores, necessariamente pessimistas, logo desistem, tornando-se prejudiciais ao conjunto, pela falta de entrada a seus tempos.
A balburdia é agravada pelo facto de não ser linear o preceito.
Entre existentes e desistentes, como em tudo, são extensas as zonas cinza, nem branco nem negro, acolhendo os pensadores menos convictos da sua opção.
O grande maestro, incapaz de regredir nos seus favores, estará de todo arrependido e receoso duma eventual paralisação da sua antes bela sinfonia.
Para quando ? Resta saber!!!
Tudo me foi contado pelas arvores enquanto ondulavam, acenando o seu adeus à passagem do autocarro.
Aqui fica o relato, convicto de não estar a cometer indiscrição.

2 comentários:

Anónimo disse...

BELO

Anónimo disse...

"A viagem agradou"

porque as árvores te contaram

maricel