sábado, 15 de março de 2008

(129) O MAL MENOR

fotocantodocarlos
Sempre me confundiu o falacioso argumento daquele amigo que, a desabafo duma nossa desgraça, se vale da tradicional palmada nas costas, à laia de conforto afectivo, exclamando
- Deixa lá, podia ser pior !
Mas claro que podia, novidade não é e todos o sabemos.
Até mesmo no capitulo final, diferentes tipos de morte podem ocorrer, mais elaborados uns, outros não tanto, conduzindo porventura ao mesmo desenlace.
Vem o tema à pena, ao lembrar história há muito ouvida sobre a forma desenvolta, airosa e até prazenteira, de mascarar uma má noticia, como se de boa se tratasse.
E ai vai ! A um quartel e ao oficial de dia chegou ordem de comunicar ao praça 31 o falecimento do pai.
Sendo chata a má nova e embaraçosa também, logo o homem, valendo-se da hierarquia, pensou no seu descarte e, chamando o sargento, endossou o sarilho.
Assim e de posto em posto foi o comando rolando até cair no 41, tido pelo chalado da companhia.
E, raso como era, não cabiam mais endossos. À façanha se lançou, procurando o 31 a quem disse:
- Eh pá, senta-te, tenho chatas noticias para ti.
Houve um acidente na tua terra e morreu toda a tua família e também a namorada.
Foi pronto e largo o pranto, sob o olhar matreiro do astuto mensageiro que, passados alguns minutos, abrindo largo sorriso, continuou:
- Meu sacana. És um gajo cheio de sorte, só morreu o teu pai.
Logo surgiu alegria no rosto do 31.
Risonho e já refeito, respondeu: Obrigado, obrigado !

Maliciosa, a graça contida, não pode ficar por aqui.
E fiquei a matutar. Afinal porque choramos ?
Mais por pena de nós do que pelo sofrimento alheio ?

2 comentários:

**** disse...

Ele há culturas em que se festeja amorte, como sinal de que "este já se livrou da seca de cá andar".
Aliás consta em boas crenças que o cá andar é que é sofrimento (:

Eu por mim cá vou andando com a cabeça entre as orelhas ! (:

biabisa disse...

Obrigada pelas suas histórias, pelas viagens que faz ao sótão, pelas recordações que de lá traz. Eu chorei a perca dos familiares e continuarei a chorar, porque muito os amava. A vida para mim é maravilhosa. Gosto muito de viver.
O riso final do 31 foi de alegria, pois ainda lhe restava toda a família e até a namorada. O 41 feito palerma, deu uma volta fantástica à questão. Gostei.