quinta-feira, 9 de agosto de 2007

(85) O MALEFICIO DO ESPELHO

Tenho, entre outros, o vicio menor de beber água em directo da torneira e então, se acordo de noite, é satisfação obrigatoriamente a garantir.
Esta noite, seriam duas, ensonado, lá fui matar o vicio e, quando saciado, levantei a cabeça. Um sujeito, vagamente familiar, fitava-me, olhos sem brilho, profusos de tristeza e ávidos de vazar a alma.
Não me dispus a conversas, olhei-o, sorri e virei as costas de retorno à cama.
À cautela, e contra o meu uso, fechei a porta.
Sem sucesso tentei pegar de novo o fio do sono. Ao novelo juntaram-se o Remorso e o Egoísmo e não deixavam fluir.
Ora o Egoísmo e o Remorso são causa e efeito e, sabendo que não me deixariam em paz, resolvi voltar ao quarto de banho à procura do sujeito que até retribuíra com tristeza o meu sorriso evasivo.
Desaparecera.
Corri em desespero aos outros espelhos da casa e êxito não colhi.
Então o grito saiu:
– Está alguém em casa ?
Soou a vazio e o falsete do eco reboou lúgubre...asa ...asa ...asa .....
Estava definitivamente só !
Voltei à cama amargurado e nem o sono reencontrei.

2 comentários:

SILÊNCIO CULPADO disse...

Eu percebo. Oh se percebo.Às vezes a solidão por ser uma companheira tão fiel, dá-nos volta a este turbilhão de sentimentos contrários que se enrolam dentro de nós quando procuramos algo que não se encontra.
O texto é bonito mas será mais alegre quando estiveres mais preenchido. E isso vai acontecer.

anilda disse...

Vamos recuperar os espaços do que é humano:
-o dálogo, a comunicação , a partilha..... e não nos sentiremos tão sós.

beijo gordo

ana