quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

(256) MUDANÇAS

Por necessidade continuada e logo transformada em processo banal, tantas e tantas vezes de casa mudei que nem pelos dedos ouso contar, na previsão de não chegarem, a menos que de outros aproveite a mão.
Na última, ainda em curso, nela decidi nem pensar e adiar, adiar... na razão lógica, ou ao invés, na falta dela, este meu percurso devassar.
Porque, na verdade, além duma pequena maleta de roupa e artigos de higiene pessoal, tudo o mais que preciso viaja comigo em unidade física e psicológica, os sentimentos não ocupam espaço e as memórias seguem-lhe as pisadas, como o conceito pessoal de arte e beleza, tão individual e diferente talvez, mas meu de certeza.
Porém, quando existe espaço coisas e loisas ali vão jazendo, todas ou quase prenhes de implícita leitura de nós e laços que as enlaçam, cumplicidade sem idade, momentos e ternuras passadas, de boa ou de má história, interruptores vivos e reais desse interminável arquivo da memória que aviva, sem demora, em franca contradição ao acto de deitar fora.
Os inertes que nos rodeiam não passam de carrascos, esgotando sua valia na activação dessa memória, resíduos da maratona da vida, corrida de olhos postos no horizonte, no esquecimento de olhar à volta, parar e beber da fonte.
Depois, bem depois, na meta, não dá para beber pois a mesma água não volta a correr e a chama já não arde... depois... é tarde.

1 comentário:

Parapeito disse...

mudanças...implica começar de novo...eu não me importo com isso...desde que leve agarradas a mim as boas lembranças...e os bons sentimentos...e ja que amanhá pode ser tarde...que se comece ontem...
Um abraço**