segunda-feira, 13 de outubro de 2008

(191) Esperteza saloia



Embora conste ser o homem animal politico, posso afirmar, com muito agrado, não ser da politica profissional, pese embora goste de visitar mercados.
Quando topo um, meto sempre o nariz, na antevisão do prazer.
São depósito vivo de usos e padrões sociais, numa miscelânea de culturas.
Desta vez entrei para comprar e aí sou cauteloso.
Olho, comparo e apalpo.
No caso de pouco valeria a apalpadela, pois dum molho de espinafres se tratava.
Fora da banca uma mulher já idosa, pesadona, obesa, diria, jus fazendo a tantos adoradores de comida.
Lá dentro, a mando daquela, homem jovem, talvez filho, talvez neto ou talvez outro qualquer vinculo que ao caso não vem.
Fui discutindo a exorbitância do valor atribuído ao molhinho e ela arengava, na sua singela cultura mercantil que sim, eram frescos, apanhadinhos há pouco e tinham muito ferro, ao que retorqui que apesar do ferro eram leves em demasia e muito mais ferro tinham os euros solicitados.
Às tantas, estando eu, como de uso, vestido à ligeira, para a frescura da manhã, as mãos me apalpou exclamando:
--Olha, tenho 69, é muito mais velho do que eu e tem as mãos quentinhas.
Não retirei conotação erótica e protestei com veemência:
--Mais velho !?!? Ora essa ! Ainda há pouco fiz 30 e o meu aspecto e barba esbranquiçada são da vida que levei.
A sua observação e falta de raciocínio não viviam sós, coabitava também a falta de humor, tudo transparecendo na estupefacção assumida naquele rosto envelhecido, implicitando: "coitado, tão novo e tão acabado".
O titulo do texto não ilude, aqui o saloio fui eu, pois acabei por pagar acima do valor justo, com disfarçados descontos nas batatas e cenouras.
Levei o excesso à conta do ingresso num espectáculo que nem sempre é tão nice. Deliro com estas coisas e espero que Deus me perdoe ou alguém a seu mando, se, por azar, ocupado estiver.
Juro que o piripiri não comprei !

Sem comentários: