quarta-feira, 5 de setembro de 2007

(88) A ESCALADA

Para conhecer do sentido da vida, havia-me proposto chegar ao topo.
Estou cá em cima. As expectativas foram iludidas.
Sobre a cabeça a ilusão do azul celeste e farrapos brancos esvoaçando esbaforidos ao gélido bafo do vento.
Nem folha nem fumo.
Nem árvore, nem ave, nem o seu pio.
Afinal aquele sentido havia de ter sido retirado do desafio da escalada e durante a sua superação.
Entre a pregagem das estacas devia ter dado um compasso de espera, olhando em volta, imaginado até as árvores, as aves e os seus gorjeios e talvez até flores.
Na ânsia da descoberta esqueci o sonho, abafei-o, e resta apenas o desespero de não ter caído eu, quando perdi quem me seguia.
Ali, no topo, nada mais resta.
Vou espetar a bandeira da angustia, infeliz marco da minha presença neste lugar insólito e iniciar a facilitada descida, onde encontrarei o sentido do nada.

4 comentários:

**** disse...

Provavelmente é porque ainda não chegou ao topo. Esse unta-se em ilusão, em miragem, o que for.
Na verdade o sentido da vida é esse mesmo: não termos que o procurar... para não desesperar.

notyet disse...

É... rebuscamos e o sentido mora bastas vezes naquilo que parece não fazer sentido
Faz-me lembrar que água que corre e não bebo, jamais voltarei a beber.

Afonso Faria disse...

Caro amigo!
"as expectativas foram iludidas" dizes. Ok, então foram mal, as expectativas. Não te tens distraído em expectar e deixado escapar o momento? É verdade, a água que deixas escapar, não a beberás. Acho que não nos podemos dar ao luxo de escolher a sede para a água. Um abraço

Anónimo disse...

SEM O SONHO NÃO VIVEMOS.
SE O ABAFAMOS MORREMOS.
RESTA APENAS O DESESPERO DE NÃO TER CAÍDO QUANDO PERDI QUEM EU SEGUIA.