quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

(112) VERDADEIRA POBREZA

Já antes aqui gabei a captação de vivências nos públicos transportes, compensadoras, por vezes, do maralhal de corpos e vozearia, próprios de grande mercado.

Desta vez sobressaia discurso por certo bebido em cruzadas politicas, contra patrões e governos, geradores de desemprego e a receita, milagrosa, debeladora da crise, ali era sugerida.

Porque, não havia direito, a filha, há seis meses empregada ainda não era afectiva.
De repente fiquei só.

Completamente só não diria, ficou comigo uma sombra de tristeza.
Tive por força de procurar a luz !

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

(111) AMIZADE


O melhor amigo do homem.
Talvez não. Eu tenho outros. talvez poucos, muito poucos, pouquíssimos...
Mesmo sem mo dizerem sei que me amam e muito, muitisssimo...
Nessa área não tenho dúvida da minha riqueza.
Quanto a este melhor amigo do homem, a natureza não lhe concedeu hipótese de apresentar queixa da estranha forma com que alguns homens lhe retribuem essa amizade.
Uns ficam atónitos, outros mordem.


Aí até parecem humanos !

sábado, 19 de janeiro de 2008

(110) A PELE








Esta larga a pele, por inteiro, tranquila.
Estávamos ao balcão, bebendo café.
Alguém se prontificou a pagar a dolorosa e, brincalhão, achou caro.
De pronto e com energia, a dona do boteco apresentou argumento relevante.
Pediu então ele licença para passar ao outro lado. Concedida e lá chegado, arregalou os olhos de espanto, exclamando: Olha, afinal é barato !
É isto !
Para aceitar e compreender o outro, temos por força de tomar o seu lugar, observar suas teorias e expectativas, indo fundo para descobrir as causas de tais efeitos, vestir-lhe a pele, digo eu.
A tarefa não é facilitada.
Há que superar a nossa inércia, o preconceito, a forma de estar na vida.
Se a pele a envergar for ligeiramente apertada ou justa, carecerá apenas de alguns pequenos ajustes por tão semelhante à nossa.
A dificuldade crescerá com o excesso de aperto ou largura, até ao momento em que por demasia não nos podemos enfiar nela ou nos escorrega pelos ombros.
Aqui, pela extensão dos efeitos, até serão incompreensíveis as causas e teremos de aceitar quão forte terá sido a pancada.
Resta-nos então a compaixão por essas quedas ao fundo do poço e o estender de mão na esperança da não exclusão.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

(109) A SUSPENSÃO

Do comentário anónimo ao texto anterior, ressalta a subjectividade do belo na exposição do horrível.
Foi essa a minha intenção ao colocar ali aquela garra de cinco dedos, descarnados e torcidos pela natureza.
Horrível, contudo bela no seu horror.
A foto de hoje, semelhando uma pequena briga de nuvens ao cair da noite, não deixa de ser bela e pacifica e perdoarão qualquer coisinha mas o tema é a felicidade, esse estado de que todos falam, poucos definem e muitos anseiam.
Também não me meto nos tortuosos caminhos da definição, prefiro senti-la como estado de espírito, quando algo me pacifica e dá prazer, seja ele físico, místico, intelectual, abstracto até.
Aí estou de bem comigo, sem barreiras, sem fronteiras, e mal grado saiba da efémera presença, como lampejo, há sempre uma réstia de desejo de poder.
Poder suspender a vida e ali ficar pairando, usufruindo do bembom.
O bom senso diz-me porém que o erro seria crasso.
Por um lado não seria justo (qualidade de quase todos os poderes supremos); outros seres estariam de certo em sofrimento e teriam a sua dor prolongada e, por outro, o prazer continuado, sem limites, perde as suas qualidades de excepção, é banal.
Cabe-me assim não sonhar, receber a dádiva quando surge, fugaz que seja e, quando volto à encruzilhada, sorrir porque tive.

domingo, 13 de janeiro de 2008

(108) OS APLAUSOS E A MÃO



Se queres aplausos, diz o que gostam de ouvir.

Todavia, se mudarem de opinião e mantiveres a tua ambição, inverte desde logo o teu discurso.
Seguirás aplaudido mas terás de te cuidar.
As mãos podem volver em garras. Cinco dedos bem afiados e não só.
Na aparente bonança da tua consciência, breve sentirás a tempestuosa mudança.