domingo, 14 de maio de 2006

(25) ROSA

A Rosa foi em menina botão de encantar. E assim, sem espanto, ficou mais bela a desabrochar
Metida consigo, sonho compulsivo, ao sol queria luar.
Gostava da noite, quieta e calma, e desse luar a banhar a alma




Depois já mulher, por desgosto de amor,
perdeu-se na noite
e no sonho vivido





















E a desfolhar por lá tem andado no labirinto do seu triste fado
Tão perdida que está
já pensou em voltar
Encontrar o caminho e ao sol retornar
na esperança vã do passado encontrar


terça-feira, 2 de maio de 2006

(24) VOAR

PARA LHE VER O ROSTO
VOU TENTAR VOAR
DEPOIS VOLTO

Como prometido, voltei.
Não sendo voar tarefa de somenos, foi todavia o esforço compensado
Cheguei ao topo em plena noite de luar. Essa estranha força e a ligeira brisa, emprestavam brilho e beleza à moldura verde daquele rosto. Aqui e ali pérolas de orvalho.
Porque choras ? Perguntei.
Confidenciou-me ser a primeira vez a receber visita humana não hostil e tão próxima. Havia visto outros, ao longe, montados em estranhas aves, lá onde não se enxerga o rosto.
Confidenciou também a dor da sua imobilidade, quebrada tão somente pelos fortes ventos. E foi com sonho e tristeza que recordou os tempos em que, frondosa, abrigava os ninhos e as aves, seu deleite de então. Confiou-me assim a sua solidão e o sonho de poder voar, justificando a forma estranha do seu corpo pelo esforço das vãs tentativas de o fazer.
Trocados os nossos pesares, aconchegámo-nos num doce e longo silencio.
Logo, logo, passada essa pequena eternidade, no afago da despedida, senti que se aproveitava do orvalho para disfarçar o pranto e já no solo deixei o meu abraço naquele tronco sofrido e rugoso, forte e sensível.
Prometi voltar para continuar a ligar a sua solidão à minha, quiçá ficar.