sábado, 19 de janeiro de 2008

(110) A PELE








Esta larga a pele, por inteiro, tranquila.
Estávamos ao balcão, bebendo café.
Alguém se prontificou a pagar a dolorosa e, brincalhão, achou caro.
De pronto e com energia, a dona do boteco apresentou argumento relevante.
Pediu então ele licença para passar ao outro lado. Concedida e lá chegado, arregalou os olhos de espanto, exclamando: Olha, afinal é barato !
É isto !
Para aceitar e compreender o outro, temos por força de tomar o seu lugar, observar suas teorias e expectativas, indo fundo para descobrir as causas de tais efeitos, vestir-lhe a pele, digo eu.
A tarefa não é facilitada.
Há que superar a nossa inércia, o preconceito, a forma de estar na vida.
Se a pele a envergar for ligeiramente apertada ou justa, carecerá apenas de alguns pequenos ajustes por tão semelhante à nossa.
A dificuldade crescerá com o excesso de aperto ou largura, até ao momento em que por demasia não nos podemos enfiar nela ou nos escorrega pelos ombros.
Aqui, pela extensão dos efeitos, até serão incompreensíveis as causas e teremos de aceitar quão forte terá sido a pancada.
Resta-nos então a compaixão por essas quedas ao fundo do poço e o estender de mão na esperança da não exclusão.

1 comentário:

alcinda leal disse...

Tentar vestir a pele de alguém,procurar compreender o outro é tarefa algo difícil mas,enfim,algo que experimentamos todos os dias, mas fotografar um réptil...para mim é algo impossível,porque aterrorizante!
Gabo-o por tal,nem que tenha sido uma pesquisa!
Como vê só digo bem do prof!